Inaugurado em 1884, o Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), localizado em Porto Alegre, completa neste sábado (29/6) 140 anos de história mantendo-se como uma instituição referência na área de saúde mental no Rio Grande do Sul. Caracterizado inicialmente como hospício, ao longo do tempo foi se adequando às mudanças sociais e evidências científicas, seguindo os rumos da saúde pública no Brasil.
A maior transformação da instituição ocorreu a partir da Lei da Reforma Psiquiátrica promulgada em 2001, quando começou o processo de desinstitucionalização dos antigos moradores que foram progressivamente deixando o hospital e passando a viver nos Serviços Residenciais Terapêuticos.
Em 2024, o HPSP é uma instituição de atendimento ambulatorial, de internação e de ensino e pesquisa, integrando a Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS). Está situado na região Leste da capital e abriga seis prédios históricos, tombados pelo patrimônio histórico-cultural e paisagístico do Estado e do município.
O ambulatório especializado em saúde mental Melanie Klein recebe pacientes de 88 municípios da Região Metropolitana, que abrange aproximadamente 5 milhões de pessoas. O encaminhamento é feito pela atenção primária de saúde dos municípios por meio do Sistema de Gerenciamento de Consultas do SUS.
Segundo a chefe administrativa do hospital, Chris Allves, "o ambulatório atua dentro de uma lógica de promoção da saúde, valorizando a vida em seu contexto social comunitário e a integralidade do cuidado". O serviço presta atendimento especializado em saúde mental voltado ao público infantil, adolescente, adulto e idoso, e é formado por uma equipe interprofissional das áreas de fisioterapia, nutrição, psicologia, psiquiatria e serviço social. "Buscamos desenvolver as práticas de forma integrada entre os profissionais e com os demais serviços da rede psicossocial", explica Chris.
O HPSP também conta com unidades de internação para pacientes agudos e com um Centro Integrado de Atenção Psicossocial - Infância e Adolescência (Ciaps). Na área de ensino e pesquisa, forma e capacita profissionais há 38 anos por meio da Residência em Medicina Psiquiátrica e por estágios de graduação multiprofissional.
Em parceria com a Fundação de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado do Rio Grande do Sul (Faders), o São Pedro desenvolve o Curso de Capacitação de Cirurgiões-Dentistas e Pessoal Auxiliar no atendimento odontológico ao paciente com deficiências e transtornos mentais.
Oficina de Criatividade
É um espaço de arteterapia criado em 1990 que disponibiliza práticas de desenho, pintura, argila, costura, bordado, dança, teatro e de integração com jogos (como dominó e Uno). “Trata-se de um lugar de criatividade, arte e afeto”, conta a psicóloga Telma Carvalho, vice-cordenadora da oficina.
São em média 50 frequentadores fixos, mais os alcançados pelas equipes de oficineiros que se deslocam até unidades de internação para levar a arterapia aos que se encontram em tratamento hospitalar.
A partir das produções da oficina, foi criado o Museu Estadual Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro. O local é responsável por preservar o acervo da atividade e reúne mais de 200 mil obras produzidas por seus frequentadores.
Jardim Terapêutico
É um projeto que utiliza espaços de cultivo de plantas nativas do Rio Grande do Sul com o objetivo de estimular a interação e a contemplação da natureza como prática terapêutica em saúde. "É uma experiência intersetorial de desinstitucionalização porque articula meio ambiente, arte, educação, cultura e lazer num espaço aberto, proporcionando contato com a natureza", afirma a chefe-adjunta do HPSP, Viviane Silveira Borba.
Dentre as práticas, estão destinação de resíduos, embelezamento por conjuntos vegetais, assessoramento para realização de podas e introdução de elementos naturais, artísticos e de estimulação sensorial. "Há ainda um lago com peixes coloridos, batizado de Lago Esperança, que serve de cenário para práticas alternativas de saúde mental – envolvendo teatro, expressão corporal, artes visuais e música", explica.
Quem visita o Memorial da Loucura do HPSP faz uma viagem ao passado da psiquiatria no Rio Grande do Sul. O acervo é formado por equipamentos médicos, vidraria de laboratório e farmácia, mobiliário, livros de registro de entrada de pacientes, esculturas, afrescos, quadros de personalidades, plantas arquitetônicas, fotografias, documentos administrativos e livros raros sobre medicina, neurologia e psiquiatria.
“O memorial resgata e apresenta a história da psiquiatria no Estado, uma trajetória precursora de todas as práticas que surgiram com a evolução da área nestes 140 anos”, afirma a coordenadora Lia Magalhães.
O principal público é formado por universidades, profissionais e instituições de saúde. Só no ano passado, cerca de 2,5 mil pessoas visitaram o espaço, sendo grupos de 65 municípios e de vários estados – como São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina –, além de pesquisadores do exterior.
A programação inclui palestras e visitas guiadas, com disponibilização de informações por meio de textos, filmes, exposição oral e passeio pelo Centro Histórico.
Atualmente a visitação está suspensa, devido a algumas avarias causadas pelas fortes chuvas, mas a previsão é de que em julho o memorial passe a realizar novamente as visitas guiadas.
O horário de visitação é das 8h às 12h, aberta ao público geral. Visitas de grupos devem ser pré-agendadas pelo e-mail [email protected].
O HPSP conta também com o Amigos da Memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro, criado em 30 de setembro de 2003. A Associação é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, formada por voluntários de perfis profissionais diferentes, unidos com o objetivo de preservar o hospital.
Texto: Ascom SES
Edição: Secom